domingo, 5 de dezembro de 2010

Acupuntura: Considerações e reflexões sobre a Tradição e a Terapêutica. PARTE IV

                   
 Escrevendo sobre ACUPUNTURA:
Existem Acupunturas cardíaca, pulmonar, dermatológica, urológica?
Como reconhecer um bom profissional antes de fazer uma sessão?



                      A Acupuntura deve ser exercida com muita prudência e seguindo a tradição, sob pena de ser banalizada ou reduzida, usando apenas a técnica de aplicação de agulhas, em receitas prévias, para determinadas queixas. Um profissional bem habilitado poderá interagir com diversos outros de forma multi, trans e interdisciplinar, embora a Acupuntura não possua especializações, como estamos acostumados na clínica ocidental hegemônica. 

                   Não temos Acupunturistas especialistas no meridiano do Pulmão (Acupuntura em Pneumologia), ou do Coração (Acupuntura Cardiológica), o que seria um verdadeiro contra-senso na medida em que ela é construída dentro de um fundamento integralista como vimos no início, ou seja, a Acupuntura é um “recurso” baseado em funções sistêmicas integrativas, complexas, abertas e interativas. 

                    Entretanto, de uma forma sincrética, somatotópica ou ainda fazendo uma analogia com as especializações da clínica moderna, ela é uma aliada terapêutica nas doenças crônicas degenerativas ou nas Síndromes inespecíficas como SGA(Estresse), Fibromilagia, doenças auto-imunes e  portanto se aproxima muito da reumatologia e geriatria; nas cefaléias tensionais ou paralisias onde abre espaços para, através das pistas deixadas pelo trajeto do meridiano acometido, inferir determinantes do aparelho digestivo, da oclusão dentária, da ATM ou do pulmão, portanto se aproxima muito da neurologia, pneumologia, odontologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, enfermagem. 

                Nos acometimentos ósteo-articulares, nas lesões por esforços repetitivos, DORT, desvios da coluna vertebral podem ser particularmente valiosas, aproximando-se da ortopedia, fisiatria, educação física. Certamente existiriam muitos outros exemplos como sua utilização como anestésico em pré- operatórios, tratamento analgésico em idosos que apresentam intolerância a determinados medicamentos, nos distúrbios uro-ginecológicos, dermatologia, estética e até em plantas e na veterinária. 

                   Vimos que os desequilíbrios energéticos surgem pela insuficiência ou excesso de Yin/Yang nos meridianos que se distribuem por nosso organismo. Perante um quadro de dor na articulação coxo-femural, por exemplo, embora o atento Acupunturista certifique-se do agravo “específico”, coxartrose, uma leitura tradicional mostraria que o agravo não é reconhecido pelo nome derivado da CID-10, (Classificação Internacional das Doenças - 10ª Edição) mas como um “Síndrome do ataque ao Chao Yang” o que inclui o grande meridiano da Vesícula Biliar e do Triplo Aquecedor. 

                   Uma enxaqueca que se agrava com o vento, pode ser reconhecida como “Yang do Jue Yin dos pés que subiu”. É uma questão de leitura, de semântica sem dúvida. Contudo envolve um “saber” que certamente transcende o intelectivo, a cognição, a racionalidade e insere um elemento que envolve intuição, conhecimento, interpretação, significado, indução, dedução e principalmente um senso de percepção muito parecido com o conceito de “sistemas abertos e complexos”, descritos por Francisco Varela, Humberto Maturana e Ricardo Uribe. 

                  O poder da síntese às vezes faz com que as relações pareçam desconexas e desprovidas de sentido, fora de qualquer possibilidade de racionalidade perante a clínica tradicional. É preciso “muita” paciência e determinação por parte do profissional Acupunturista, do colega que indicou a interconsulta e do paciente. É preciso toda uma precaução e habilidade para transmitir as informações. Pelo fato de querermos uma explicação para nosso sofrimento e dor, precisamos “entender logo” a situação que nos acomete, mesmo que haja sucesso no tratamento. É compreensível. Imagine a situação de um paciente, dentro dos aspectos de nossa cultura imediatista e da modernidade, receber a informação que seu “Yang do Jue Yin do pé subiu”.!?! 

                São apenas exemplos, vamos combinar, “fictícios”, para podermos fazer uma analogia entre as concepções clínicas e talvez concluir que o Acupunturista, neste exemplo e em outros, não tratou de “enxaqueca”, mas de um desequilíbrio no Chi do meridiano do Fígado e do Triplo-Reaquecedor (com prováveis  desdobramentos nos meridianos da Vesícula Biliar e Circulação Sexualidade).

Voltamos semana que vem.
Até lá!
Maurici Tadeu Ferreira

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